sexta-feira, 24 de outubro de 2008

retirante

nem na chuva
se curva
nem na curva
se perde
quando o sol
omite a sombra
quando não sopra
nem brisa breve
pesa a pouca
trouxa
ronca acordada
a fome quente
chora ressecada sede
segue sempre
trôpego altivo
invisível em frente.



Texto inspirado na ótima fotografia de Diego Mascarenhas no blog Catapulta Imprecisa a foto é essa.

nua

a outra diz
fico nua porque posso
ora
ora bolas
só porque ela tem coisas
belas além das belas bolas
pode isso?
ela pode.
pode sim.
o nu
pode papa,
patinadora
pode toda gente
mesmo que sem dente
e sem pente.
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uma tal bela disse
que ficava nua porque podia.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

vida

ave tanta
chave
vixe tanta
tranca
santa tanta
porta
e nada de abrir
um caminho que tenha volta...

inspirado pelas chaves do velocidade do obturador,
das sempre belas fotografias do parceiro Matheus Magenta.

p.

por um instante
você
existiu num universo
onde só existem
versos...

sucesso

pobre
lascado
condenado
rindo feliz
por todo
lado...

seniil

tudo correndo a pino solto
nu sentado
com a luz do sol revolto
tusso,
sangrando tutano
tusso
agora e já
cerro com pedras e paus
pontes
portas
pálpebras
agora e já
encerro.

zen I

novamente
na navalha
do denso
busco mudança
queimando incenso.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

naturalista

meu bom médico naturalista
tentou salvar minha vida
receitou-me em receita formal,
assinada e descrita em próprio punho
com letra legível de uma boa bic,
um improvável e intragável regime
trinta dias de impossibilidades
meu estômago permanentemente de molho
em chás amargos
e sem piada mas com rima
meus rins rindo de plantão
meu fígado plácido de domingo a domingo
e para isso, nada demais
20 e tantas ervas politicamente corretas:
para começar,
devo preparar montaria na cavalinha
com chapeu-de-couro enfiado na testa
e bigodes de cabelos de milho
cruzar e desbravar o quintal de minha vizinha
pé-ante-pé um pouco só avante
encontro um valente dente-de-leão descontente
medo pavor suor suor calafrios tudo de repente
um grito diz "calma"
ainda suando
a voz suave da sálvia, me acalma
salvo pela sálvia, quem diria!
sábia me disse: "esse dente de leão não te morderia"
mesmo assim
decido desistir
voltar para casa, rasgar a receita e dormir
mas na hora H
me enrolo ou sou enrolado
num cipó rabo de macaco
que trazia um recado indignado
"diga ao seu médico que de naturalista ele nada tem,
já acabou com o quintal de meio bairro, e quer acabar agora com o meu também..."
assinado: alecrim dourado

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

terça-feira, 7 de outubro de 2008

meditando

sentado na beira do rio
se transformou
em margem
em leito
e riu.

o que corre
em mim
não é sangue
suor ou desejo
é pó.
poeira mesmo
da que o vento mais traz
do que leva...

madame

com o corpo enfiado
nos melhores
prantos
que o dinheiro
pode comprar...
enxugava sozinha as lágrimas
em guardanapos coloridos
de bar.