segunda-feira, 20 de outubro de 2008

naturalista

meu bom médico naturalista
tentou salvar minha vida
receitou-me em receita formal,
assinada e descrita em próprio punho
com letra legível de uma boa bic,
um improvável e intragável regime
trinta dias de impossibilidades
meu estômago permanentemente de molho
em chás amargos
e sem piada mas com rima
meus rins rindo de plantão
meu fígado plácido de domingo a domingo
e para isso, nada demais
20 e tantas ervas politicamente corretas:
para começar,
devo preparar montaria na cavalinha
com chapeu-de-couro enfiado na testa
e bigodes de cabelos de milho
cruzar e desbravar o quintal de minha vizinha
pé-ante-pé um pouco só avante
encontro um valente dente-de-leão descontente
medo pavor suor suor calafrios tudo de repente
um grito diz "calma"
ainda suando
a voz suave da sálvia, me acalma
salvo pela sálvia, quem diria!
sábia me disse: "esse dente de leão não te morderia"
mesmo assim
decido desistir
voltar para casa, rasgar a receita e dormir
mas na hora H
me enrolo ou sou enrolado
num cipó rabo de macaco
que trazia um recado indignado
"diga ao seu médico que de naturalista ele nada tem,
já acabou com o quintal de meio bairro, e quer acabar agora com o meu também..."
assinado: alecrim dourado

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