sábado, 31 de março de 2007

desastre

50 toneladas de peixes
                                              mortos
peixes pesam.
não tem corpos.
em toda morte
um número exato de mortos
50 toneladas de peixes mortos
em janeiro
117 mortos pela polícia no Rio
7.6 toneladas de corpos
227 homicídios dolosos: 14.7 toneladas de corpos
peixes pesam
não tem corpos
50 toneladas de peixes mortos
até quando
teremos corpos?
72.3 toneladas de mortos.

sexta-feira, 30 de março de 2007

poema para conseguir o telefone da senhorita chinesa do bar sem nome...

senhorita,
confesso minha incompetência.
passei um minuto e meio,
tentando estudar toda cultura milenar chinesa...
durante todo este tempo dediquei-me integralmente ao assunto,
exaustivamente tentei, fracassei.
porém, não desisto facilmente.
durante meses
no meio dessa rua apressada
passo desviando olhares e
evitando esbarrões
passo esperando
encontra-la sorrindo.
em dias assim
tomo um pouco mais
de chuva
esqueço do calor,
passo lentamente,
decorando cada expressão daquele instante
que demora menos que alguns segundos
mas não esqueço.
posso descrever detalhes de todos
sorrisos que já passaram
os mais alegres,
uns morenos, nas segundas depois da praia,
sorrisos cansados nas sextas
e ainda pintados com a
maquilagem da festa passada.
todos lindos.

senhorita,
por isso lhe proponho.
se em alguns segundos posso saber tanto
sobre seus sorrisos
se me desse alguns minutos de seu
tempo,
num momento qualquer do seu dia
tenho certeza que não fracassarei
em conhecer um pouco mais da milenar
cultura chinesa...

ps: antes que minha amada mulher ache que estou paquerando um chinesa, deixo claro que este texto é puramente ficcional, inspirado num belo texto do meu amigo Leo: http://blog.xleox.org/labels/Sr.Ling.html

ps 2: ainda não terminei este texto.

quinta-feira, 29 de março de 2007

poema tirado de um livro de Bandeira

andorinha
que passava a vida à toa à toa
cantou,
bebeu,
dançou
depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas
e aprendeu a nadar.

"mixagem" dos poemas: andorinha e poema tirado de uma notícia de jornal, ambos do livro Libertinagem do grande Manuel Bandeira.

farelos de pão

entre
  miga
for   lhas
  migas
---------------------------------------
formigas em fila
íntima
carregam queixosas
o resto do meu almoço

terça-feira, 27 de março de 2007

chamem o médico

cansado
de tanto
não cansar
de tudo superar,
supurei.

panacéia

idéia precisa.
pura e brilhante
flexível-flutuante
com espuma e saborosa
cheirosa,
quase tem peso.
preço? não tem.
pronta para ser guardada
idéia na medida exata
de ser só.
idéia...

terça-feira, 20 de março de 2007

no bar, do outro lado da mesa...

ela
fechava e abria os olhos
lentamente lânguida
soltava os cabelos
displicentemente sexy
discretamente falava alto
bebia e fumava com charme exato.
ele?
bocejava,
so-no-len-ta-men-te
gay.

terça-feira, 13 de março de 2007

falsa denuncia

prendam esta árvore
ela vai crescer
levem para uma
cela comum
raspem as folhas
humilhem
deixem por um tempo
sem sol e chuva
sem sombra
inventem um crime
um flagrante delito
plantem provas
algemem as raízes
algemas nos galhos
levem ela daqui
ela vai crescer
no canto da avenida
no canto do prédio
fechando as janelas
enchendo calhas com folhas
fazendo sombra na piscina
levem para uma prisão agrícola
obriguem a trabalhos forçados
escravizem
coloquem numa solitária pela eternidade de sua vida
proíbam visitas
passarinhos, morcegos, formigas
tirem essa árvore daqui
ela merece crescer...
... longe da cidade
antes que alguma maldade possa lhe acontecer

sexta-feira, 9 de março de 2007

rapidinha

ela não dava bola nem para um
deus que sabia dançar
mas acabou se entregando
para um poeta
de porta de bar

terça-feira, 6 de março de 2007

para o dia 8...

não existe um dia
que eu não deva minha vida a uma mulher
as dezenas, ou quem sabe, centenas que já passaram...
anônimas, esquecidas, musas...
aquelas que eu nunca vou saber o nome
aquelas que nunca vão saber o quanto foram importantes
a voz doce ao telefone
o sorriso educado num balcão
um andar desatento pelo outro lado da calçada
o balançar displicente de pés em pernas cruzadas
a argumentação doce e impaciente
todas trovoadas das tpms
junto com perfume delicado que entra
e fica quando ela se vai
as mulheres esquecidas que jamais esquecerei
especiais pela essência do destrato emocional
que me fizeram passar
essenciais pelo que me fizeram aprender...
minhas musas eternas minhas efêmeras musas
musas intocáveis
tenho certeza que tive que dividi-las com outros
musas de muitos
musas do mundo
musas de poucos
de um só, jamais existiu uma mulher que não fosse
musa,
que não chorasse, pelo menos uma vez na vida por muito pouco,
fracas? que nada
fortes pela necessidade natural
de serem sensíveis por instinto.

quinta-feira, 1 de março de 2007

contra a extinção da rã

a rã é o dragão de são jorge ...
a botinha de calígula ...

ordem oca do dia

pingará um poema por semana
se tudo der certo faço uma garapa...

vazio

oco por fora
de modo que não se via
rã sem pulo pele fria
cheio por dentro
de modo que não se preenchia
maré vazante não leva
brisa que passa desvia
nem cheia a lua enchia
o vazio inteiro de uma vida
num só dia