quinta-feira, 27 de setembro de 2007

fazendo um poema em 20 minutos

20 minutos
para um poema
um qualquer que seja
que saia com pressa
que fique com calma...
20 minutos
para um poema
que mereça
60 segundos de atenção...
mas,
tempo esgotado.
20 minutos passados
um poema ainda não terminado
nenhum verso escrito
em vão,
mesmo os versos rasgados
abandonados se escondem nas entrelinhas
dos que ficaram marcados...
por sorte sou poeta
não sou pedreiro
volto meu relógio
para o zero
20 minutos
para um poema
um qualquer que seja...
20 minutos que durem
60 segundos de atenção...

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

roleta russa

se em minha têmpora
um cano frio encostasse
e do outro lado
o cão calmo farejasse
e se meu coração não
disparasse.
tranqüilo calmo
sereno,
batendo em carinhos amenos.
eu, sorteando meu
destino,
soltaria o cão
como numa brincadeira de menino...

quinta-feira, 12 de julho de 2007

as voltas do mundo

estamos ferrados.
vivemos
num labirinto
que basta andar em circulos
e estamos perdidos...

tempos

tempos, tempos, estranhos
tempos,
sempre foram assim
ou só agora percebi?
antes pelo menos
tinham cara
de outros tempos...

sorte

nos tempos de minha vó
era sorte encontrar
um alfinete
num palheiro.
agora, nos modernos tempos
dos netos
sorte?
é não encontrar
bala perdida numa avenida...

quarta-feira, 4 de julho de 2007

verde

filho de índias estupradas
nasci um velho safado
cheio de vícios
desbocado
mal mamei nas tetas
já espancava
minhas jovens mães pretas
lambia meus beiços com cana
café ouro gado
enquanto
morriam subnutridos
meus esfarrapados
empregados
aprendi desde cedo
desfazer honestidades
esconder provas
testemunhas
inventar novos suspeitos
500 e poucos anos de escola
agora formado
uma nação
com estrelas estampadas no peito
um pau brasil torto, impotente
que não tem jeito...

terça-feira, 5 de junho de 2007

alquimia

meditando nu ao luar
lá pelas tantas da madrugada
uma dúvida me condensava,
seria sereno ou orvalho
o que me molhava?
meditava
sendo sereno e orvalho
a mesma gota
nada mais no mundo me interessava...
seria o sereno
o vapor antes da gota?
ou a gota antes da luz do sol?
o orvalho é o sereno que evaporava?
queria ter quatro anos e responder sem demora:
sereno, é o xixi da lua
orvalho, é o suor do sol
porém, na minha idade
preciso recorrer a alquimia
transformando todo dia
o sereno da madrugada
em orvalho
faça chuva ou faça sol.

ps: ainda vou terminar...

meditando nu ao luar

serenava toneladas
em mim
ser sereno era meu fim
findava noite
raiava sol
enquanto eu puto da vida
gritava: atchim,
atchim, atchim...

segunda-feira, 4 de junho de 2007

lavoura

plantei sonhos
colhi frutos
bananas pro futuro!

sofrer faz parte da piada

sinto você tão ausente
de vez enquando
nem parece que sou
gente
pareço toco de cigarro
pisado
cabelo caido no
ralo
melhor na época
quando eu era mais
que sola de sapato
furado.
você pisava
maltratava
chutava
com bico fino
do sapato alto...
eu adorava.

freiras

safadas gotas de suor
molhadas
invadem estradas
já pelo hábito abandonadas

segunda-feira, 28 de maio de 2007

poema úmido

nem o sol
pra secar
o que pinga de uma
inspiração...

charada

escrever versos em horário de trabalho
dá justa causa
ou prêmio literário?

queria escrever o que sinto

entre
rabiscos e rascunhos
nasce uma obra
cunhada com versos
frases soltas bem amarradas.
numa pitada
transformar o enguiço
num poema
braço e punho
forte
ser sensível
transbordar
saber escrever um pouco mais que piada.
antes eu
soubesse pintar,
mil naturezas mortas
pintaria
limas limões e portas
nem assinar escreveria

sumindo

o pôr-do-sol
foi lindo.
pena eu não ter uma câmera comigo,
pena, eu não ser um poeta brilhante
num fim de tarde de domingo
aproveitando melhor tudo que foi
sumindo
deixando um pouco mais
que essa memória escurecida
de um pôr-do-sol solitário
num fim de tarde de domingo.

beijo do despedido

hoje com os pés
flutuando
no carpete da porta,
apontados pra fora
vou indo...
esperando
que você encontre
o pacote de
tudo que ficou
perdido
em tanto desencontro
em tanto tato
sem sentido
fica o beijo
do despedido
de fica um
pouco mais comigo...

quarta-feira, 23 de maio de 2007

milagre

tromba o elefante com a
canoa
que ainda tonta
canta,
esnoba o elefante troncho
que se levanta...
--------------------------
tromba o elefante com a
canoa
logo depois do tombo,
ainda tonta
canta
esnoba o elefante
que se levanta...
--------------------------
tromba o elefante com a
canoa
que logo depois do tombo,
ainda tonta
canta
esnoba o elefante
que se levanta...
--------------------------
tromba o elefante com a
canoa
que ainda tonta
canta,
esnoba o elefante
que se levanta...
-------------------------

ps: Picasso que era um gênio, pintou 58 vezes o quadro As Meninas de Velázquez.
Eu que dependo de corretor ortográfico para escrever, e além disso, estou com sono e com dúvida, deixo todas tentativas.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

maresia

rangia rangia
o homem de ferro corria
a ferrugem caia

guilhotina

justiça seja feita
quanto mais justa a calça
mais homens perdem a cabeça

expiações

senhoras e senhores
estou nesta fase assim
rimas que não são poemas
poemas que não tem rimas
coisas que só
rimas pobres de dar dó
não posso evitar
quando pisco o olho
já pisei
o resto é só limpar...
desculpa por esse jeito
direto de diversos
divertidos-versos
quando tudo passar
espero encontrar
mais que três versos
para brincar

descalabro

descasco milhos cozidos
com meus cascos,
sou burro.
mas sou requintado.

anúncio de uma amiga

procuro amigo colorido
que não seja rosa
e sem piercing no umbigo

em sentido

o sargento espreita
um cachorro sarnento
sentado na sarjeta

casamento moderno

você de biquine
pingando
eu de avental
enxugando

poema odontológico, lógico!

obturações
não tapam
buracos no coração

quem sabe
um canal
resolva
cortando a raiz
da questão

quem sabe
um orgão novo
de porcelana
brilhando na escuridão

quem sabe,
só uma extração...

templo

tudo padece calmo
tudo perece
nem toda prece zen
muda o templo
que enlouquece...

sábado, 19 de maio de 2007

terça-feira, 15 de maio de 2007

quinta-feira, 10 de maio de 2007

desabafo de uma moça...

certa vez
me deram o céu de presente
todo embrulhadinho
embalado num papel.
céu de poesia
sem poeira
vinha até com a estrela mais brilhante e distante
anéis de saturno
plutão.
era um céu tão certinho
era um papel tão embrulhadinho
era um poema
tão chatinho.

sábado, 5 de maio de 2007

sexta-feira, 4 de maio de 2007

flagra dramático

- mesmo ausente ainda sinto você ...
foi o que ela disse para o ex-marido segundos antes de se jogar do primeiro andar...
- ai, merda...
foi o que ela disse para si mesma segundos (talvez menos que um segundo, tratando-se do primeiro andar) depois do pulo...
- ai, merda...
ela repetia estatelada no chão,
estatelada na grama,
com o salto quebrado,
com o batom borrado,
e a mini-saia rasgada mostrando a pequena calcinha preta que não escondia nada...


em parceria com o Velhinho da Montanha.

quinta-feira, 19 de abril de 2007

quarta-feira, 18 de abril de 2007

terça-feira, 17 de abril de 2007

tiroteio

depois do tiroteio
fiquei como estava...
deitado,
              caido
                                morto.

quinta-feira, 12 de abril de 2007

segunda-feira, 2 de abril de 2007

borboleta

a gota lagarta parada
aguarda
criar asas em pingo
se transformar
encontrar o vazio
se dissipar
pisar o chão
se espatifar
a gota só existe
enquanto prisão do mar...

poema livremente inspirado na fotografia "Suor", publicada no dia 1 de abril de 2007 no blog do meu amigo Matheus Magenta.

sábado, 31 de março de 2007

desastre

50 toneladas de peixes
                                              mortos
peixes pesam.
não tem corpos.
em toda morte
um número exato de mortos
50 toneladas de peixes mortos
em janeiro
117 mortos pela polícia no Rio
7.6 toneladas de corpos
227 homicídios dolosos: 14.7 toneladas de corpos
peixes pesam
não tem corpos
50 toneladas de peixes mortos
até quando
teremos corpos?
72.3 toneladas de mortos.

sexta-feira, 30 de março de 2007

poema para conseguir o telefone da senhorita chinesa do bar sem nome...

senhorita,
confesso minha incompetência.
passei um minuto e meio,
tentando estudar toda cultura milenar chinesa...
durante todo este tempo dediquei-me integralmente ao assunto,
exaustivamente tentei, fracassei.
porém, não desisto facilmente.
durante meses
no meio dessa rua apressada
passo desviando olhares e
evitando esbarrões
passo esperando
encontra-la sorrindo.
em dias assim
tomo um pouco mais
de chuva
esqueço do calor,
passo lentamente,
decorando cada expressão daquele instante
que demora menos que alguns segundos
mas não esqueço.
posso descrever detalhes de todos
sorrisos que já passaram
os mais alegres,
uns morenos, nas segundas depois da praia,
sorrisos cansados nas sextas
e ainda pintados com a
maquilagem da festa passada.
todos lindos.

senhorita,
por isso lhe proponho.
se em alguns segundos posso saber tanto
sobre seus sorrisos
se me desse alguns minutos de seu
tempo,
num momento qualquer do seu dia
tenho certeza que não fracassarei
em conhecer um pouco mais da milenar
cultura chinesa...

ps: antes que minha amada mulher ache que estou paquerando um chinesa, deixo claro que este texto é puramente ficcional, inspirado num belo texto do meu amigo Leo: http://blog.xleox.org/labels/Sr.Ling.html

ps 2: ainda não terminei este texto.

quinta-feira, 29 de março de 2007

poema tirado de um livro de Bandeira

andorinha
que passava a vida à toa à toa
cantou,
bebeu,
dançou
depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas
e aprendeu a nadar.

"mixagem" dos poemas: andorinha e poema tirado de uma notícia de jornal, ambos do livro Libertinagem do grande Manuel Bandeira.

farelos de pão

entre
  miga
for   lhas
  migas
---------------------------------------
formigas em fila
íntima
carregam queixosas
o resto do meu almoço

terça-feira, 27 de março de 2007

chamem o médico

cansado
de tanto
não cansar
de tudo superar,
supurei.

panacéia

idéia precisa.
pura e brilhante
flexível-flutuante
com espuma e saborosa
cheirosa,
quase tem peso.
preço? não tem.
pronta para ser guardada
idéia na medida exata
de ser só.
idéia...

terça-feira, 20 de março de 2007

no bar, do outro lado da mesa...

ela
fechava e abria os olhos
lentamente lânguida
soltava os cabelos
displicentemente sexy
discretamente falava alto
bebia e fumava com charme exato.
ele?
bocejava,
so-no-len-ta-men-te
gay.

terça-feira, 13 de março de 2007

falsa denuncia

prendam esta árvore
ela vai crescer
levem para uma
cela comum
raspem as folhas
humilhem
deixem por um tempo
sem sol e chuva
sem sombra
inventem um crime
um flagrante delito
plantem provas
algemem as raízes
algemas nos galhos
levem ela daqui
ela vai crescer
no canto da avenida
no canto do prédio
fechando as janelas
enchendo calhas com folhas
fazendo sombra na piscina
levem para uma prisão agrícola
obriguem a trabalhos forçados
escravizem
coloquem numa solitária pela eternidade de sua vida
proíbam visitas
passarinhos, morcegos, formigas
tirem essa árvore daqui
ela merece crescer...
... longe da cidade
antes que alguma maldade possa lhe acontecer

sexta-feira, 9 de março de 2007

rapidinha

ela não dava bola nem para um
deus que sabia dançar
mas acabou se entregando
para um poeta
de porta de bar

terça-feira, 6 de março de 2007

para o dia 8...

não existe um dia
que eu não deva minha vida a uma mulher
as dezenas, ou quem sabe, centenas que já passaram...
anônimas, esquecidas, musas...
aquelas que eu nunca vou saber o nome
aquelas que nunca vão saber o quanto foram importantes
a voz doce ao telefone
o sorriso educado num balcão
um andar desatento pelo outro lado da calçada
o balançar displicente de pés em pernas cruzadas
a argumentação doce e impaciente
todas trovoadas das tpms
junto com perfume delicado que entra
e fica quando ela se vai
as mulheres esquecidas que jamais esquecerei
especiais pela essência do destrato emocional
que me fizeram passar
essenciais pelo que me fizeram aprender...
minhas musas eternas minhas efêmeras musas
musas intocáveis
tenho certeza que tive que dividi-las com outros
musas de muitos
musas do mundo
musas de poucos
de um só, jamais existiu uma mulher que não fosse
musa,
que não chorasse, pelo menos uma vez na vida por muito pouco,
fracas? que nada
fortes pela necessidade natural
de serem sensíveis por instinto.

quinta-feira, 1 de março de 2007

contra a extinção da rã

a rã é o dragão de são jorge ...
a botinha de calígula ...

ordem oca do dia

pingará um poema por semana
se tudo der certo faço uma garapa...

vazio

oco por fora
de modo que não se via
rã sem pulo pele fria
cheio por dentro
de modo que não se preenchia
maré vazante não leva
brisa que passa desvia
nem cheia a lua enchia
o vazio inteiro de uma vida
num só dia